Quem precisa de apologética cristã?
Palestra proferida originalmente nas Preleções Stob [Stob
Lectures] de 2004, com o título "Christian Apologetics – Who Needs
It?". Texto reproduzido na íntegra em
Traduzido por Vitor Grando. Revisado por Djair Dias Filho.
Sinto-me honrado pelo privilégio de ter sido convidado para
apresentar as Preleções Stob [Stob Lectures] deste ano. Fico até um
pouco embaraçado com toda a agitação de vocês. Existe a tentação de tentar
justificar a seleção como um preletor Stob apresentando duas palestras
impressionantes e acadêmicas. Mas uma ligação de Plantinga, presidente da
faculdade, me esclareceu que esse não era o propósito nem o público destas
preleções. Eu pensei em falar sobre alguns pontos chaves da teologia filosófica
cristã. Mas o presidente Plantinga me encorajou a falar sobre a questão da
apologética cristã, um tópico aparentemente caro ao coração de Henry Stob, mas
um tanto quanto negligenciado nos últimos anos. Ele me encorajou a refletir
sobre minha experiência como apologista cristão e compartilhar alguns conselhos
práticos sobre essa disciplina. Então, é isso que eu decidi fazer.
Hoje nos faremos esta pergunta fundamental: quem precisa de
apologética cristã?
Para começar, eu acredito que devemos distinguir entre a
necessidade e a utilidade da apologética. A distinção é importante. Pois, mesmo
se a apologética for absolutamente desnecessária, não se segue que ela seja
inútil. Por exemplo, não é necessário saber como digitar para se usar um
computador - você pode "catar milho", como eu faço - mas, todavia, a
habilidade de digitar é muito útil para usar um computador. Ou, então, não é
necessário conservar sua bicicleta para ir pedalar, mas pode ser um benefício
real mantê-la em ordem. Da mesma forma, a apologética cristã pode ser de grande
utilidade mesmo se não for necessária para algum fim. Assim, em relação à
apologética, precisamos nos perguntar não só "quem precisa?" mas
também "para que ela serve?"
Apologética cristã pode ser definida como o ramo da teologia
cristã que procura apresentar uma garantia e justificação racional das
alegações de verdade do Cristianismo. Aqueles que tratam a apologética com
desdém tendem a mensurar o valor da apologética focando em sua suposta necessidade
de garantir e justificar a crença cristã. Alguns pensadores, particularmente da
tradição reformada holandesa, veem esse papel como desnecessário e algumas
vezes até como mal orientado.
Ora, concordo plenamente com os epistemólogos reformados
contemporâneos, como Alvin Plantinga, que os argumentos e evidências
apologéticas não são necessários para que a crença cristã seja
garantida e justificada para qualquer pessoa. A alegação dos racionalistas
teológicos (ou evidencialistas, como eles erroneamente são chamados hoje) de
que a fé cristã é irracional na ausência de evidências positivas é difícil de
ser conciliada com as Escrituras, que parecem ensinar que a fé em Cristo pode
ser imediatamente fundamentada no testemunho interno do Espírito Santo (Rm 8.14-16;
1 Jo 2.27; 5.6-10), de modo que os argumentos e evidências se tornam
desnecessários. Em outro lugar, eu caracterizei o testemunho do Espírito Santo
como auto-autenticado, e por essa noção eu quero dizer (1) que a experiência do
Espírito Santo é verídica e inconfundível (apesar de não necessariamente ser
irresistível ou indubitável) para quem a tem e quem a observa; (2) que tal
pessoa não precisa de argumentos ou evidências suplementares para saber e saber
com confiança que ele está, de fato, experimentando o Espírito de Deus; (3) que
tal experiência não funciona, nesse caso, como premissa de qualquer argumento
de experiência religiosa com Deus, mas sim é a experiência imediata com o
próprio Deus; (4) que em certos contextos a experiência com o Espírito Santo
implica a compreensão de certas verdades da religião cristã, tais como
"Deus existe", "Eu estou reconciliado com Deus",
"Cristo vive em mim", e assim por diante; (5) que tal experiência
provê não só segurança subjetiva da veracidade do Cristianismo, mas sim
conhecimento objetivo dessa verdade; e (6) que argumentos e evidências
incompatíveis com essa verdade são subjugados pela experiência com o Espírito
Santo por quem o recebe.
Evidencialistas cristãos talvez insistam que, mesmo se a
crença cristã puder ser garantida e justificada na ausência de argumentos
apologéticos positivos, ainda assim deve ter, no mínimo, recursos apologéticos
defensivos para derrotar as várias objeções com as quais é confrontada. Mas
mesmo essa alegação mais modesta é precipitada, pois, se o testemunho do
Espírito Santo na vida de uma pessoa é suficientemente poderoso (como deve
ser), então isso irá simplesmente se sobrepor a quaisquer objeções dirigidas à
crença cristã, desta forma removendo a necessidade de apologética defensiva. Um
crente não instruído o suficiente para refutar argumentos anticristãos está
garantido em sua crença, baseando-se apenas no testemunho interno do Espírito
mesmo quando confrontado com tais objeções irrefutadas. Mesmo quando uma pessoa
é confrontada com o que são, para ela, objeções ao teísmo cristão
irrespondíveis, ela ainda assim, devido à obra do Espírito Santo, está dentro
de seus direitos epistêmicos - digo mais, sob obrigação epistêmica - de crer em
Deus. Visto que crenças pautadas no testemunho objetivo e verídico do Espírito
são parte das invalidáveis considerações da razão, a fé do crente é garantida
mesmo se não tiver nenhuma noção de argumentos apologéticos (como é o caso da
maioria dos cristãos atuais e ao longo da história da Igreja)
Por contraste, o evidencialista cristão encara duras
dificuldades: (1) Ele negaria o direito à fé cristã a todos aqueles que carecem
da habilidade, do tempo, ou da oportunidade de entender e avaliar argumentos e
evidências. Essa consequência iria, indubitavelmente, entregar milhões de
pessoas que são cristãs à descrença. (2) Aqueles aos quais foram apresentados
mais argumentos convincentes contra o teísmo cristão teriam uma desculpa justa
perante Deus para sua descrença. Mas as Escrituras dizem que todos os homens
não tem desculpa para não responder à revelação que possuem (Rm 1.21). (3) Essa
visão cria um tipo de elite intelectual, um sacerdócio de filósofos e
historiadores, que iriam ditar às massas da humanidade se é ou não racional
acreditar no Evangelho. Mas certamente a fé está disponível para todos aqueles
que, respondendo à ação do Espírito, invocam o nome do Senhor. (4) A fé fica
sujeita às excentricidades da razão humana e das areias movediças das
evidências, tornando a fé cristã racional em uma geração e irracional na
seguinte. Mas o testemunho do Espírito torna contemporâneas a Cristo todas as
gerações e, assim, assegura uma base sólida para a fé.
Portanto, na verdade, não penso que a apologética é
necessária para que a fé cristã seja garantida e justificada. Mas não se segue
daí que a apologética cristã seja, portanto, inútil ou não tenha nenhum
beneficio em garantir e justificar a fé cristã. Se os argumentos da teologia
natural e das evidências cristãs são bem sucedidos, a crença cristã é garantida
por tais argumentos e evidências para a pessoa que os compreende, mesmo se
ainda assim essa pessoa estivesse garantida na ausência de tais argumentos. Tal
pessoa é duplamente garantida e justificada em sua crença cristã, já que dispõe
de duas fontes de garantia e justificação racional.
Pode-se pressentir os grandes benefícios de ter essa dupla
garantia racional para as crenças cristãs. Ter argumentos persuasivos para a
existência de um Criador e Projetista do universo ou evidências para a
credibilidade histórica dos relatos do Novo Testamento sobre a vida de Jesus,
tudo isso unido ao testemunho interno do Espírito, pode aumentar a confiança na
veracidade das alegações de verdade do Cristianismo. No modelo epistemológico
de Plantinga, no mínimo, teríamos uma garantia racional ainda maior para crer
em tais alegações. Maior garantia racional pode fazer um descrente abraçar a fé
mais prontamente ou inspirar um crente a compartilhar a sua fé com mais
confiança. Além do mais, a disponibilidade de garantia racional para a
veracidade das alegações de verdade do Cristianismo independente do testemunho
do Espírito pode ajudar a predispor um descrente a responder à ação do Espírito
quando ouvir o Evangelho e pode prover ao crente um suporte epistêmico em
tempos de deserto espiritual ou de dúvida quando o testemunho do Espírito
parece obscurecido. Pode-se imaginar inúmeras outras formas onde a posse de
dupla garantia racional para as alegações do Cristianismo poderia ser benéfica.
Então, fica a seguinte pergunta: a teologia natural e as
evidências cristãs garantem a crença cristã? Eu acredito que sim. Nos meus
trabalhos publicados até o momento, tenho formulado e defendido versões dos
argumentos cosmológico, teleológico e ontológico para a existência de Deus e
também tenho defendido o teísmo contra as mais proeminentes objeções à crença
em Deus apresentadas por pensadores ateístas, tais como o problema do mal, o
ocultamento de Deus, e a coerência do teísmo. Além do mais, tenho argumentado a
favor da autenticidade das radicais alegações pessoais de Jesus e a
historicidade do túmulo vazio, suas aparições post mortem a
vários indivíduos e grupos, e a inesperada crença dos primeiros discípulos de
que Deus o havia ressuscitado dos mortos. Além disso, tenho argumentado que a
melhor explicação para esses fatos é a explicação dada pelos próprios
discípulos: Deus ressuscitou Jesus de entre os mortos.
Se esses argumentos estão corretos, a crença no teísmo
cristão é garantida pela teologia natural e pelas evidências cristãs, como
também pelo testemunho interno do Espírito Santo. Dessa forma, conquanto os
argumentos apologéticos não sejam necessários para que saibamos que o
Cristianismo é verdadeiro, ainda assim eles são suficientes, e essa dupla
garantia racional para as crenças cristãs pode ser de grande ajuda. Assim, o
sucesso da epistemologia reformada e a falha do racionalismo teológico de
nenhuma forma implicam que a apologética é inútil ou não é importante.
Mais do que isso: mesmo se a apologética cristã não for
necessária em relação à garantia racional da crença cristã, a apologética
cristã pode ser útil e mesmo necessária para muitos outros fins. Permitam-me
mencionar três fins para cuja realização a apologética cristã desempenha um
papel vital.
1. Transformação da cultura. A apologética
é útil e pode ser necessária para que o Evangelho seja efetivamente ouvido na
sociedade ocidental atualmente. De modo geral, a cultura ocidental é
profundamente pós-cristã. É produto do Iluminismo, que introduziu na cultura
europeia o fermento do secularismo que já impregnou toda a sociedade ocidental.
O marco do Iluminismo era o "livre pensamento", isto é, a busca de
conhecimento somente pela razão humana, sem restrições. Apesar disso não levar
necessariamente a conclusões não-cristãs e apesar de que a maioria dos pensadores
Iluministas eram teístas, foi esse profundo impacto da mentalidade Iluminista
que fez com que os intelectuais ocidentais não mais considerassem possível o
conhecimento teológico. Teologia não é fonte de conhecimento genuíno e,
portanto, não é ciência. Razão e religião são, portanto, contrários entre si.
Somente as opiniões das ciências físicas são tidas como guias autoritativos
para o nosso entendimento do mundo, e a confiante suposição é que a imagem de
mundo que emerge das ciências genuínas é uma imagem completamente naturalista.
Quem segue a busca da razão sem retroceder acaba por se tornar ateu ou, na
melhor das hipósteses, agnóstico.
Por que essas considerações culturais são importantes?
Simplesmente porque o Evangelho nunca é ouvido no isolamento. É sempre ouvido
no contexto cultural em que vivemos. Uma pessoa que cresce em contexto cultural
onde o Cristianismo ainda é visto como uma opção intelectualmente viável
demonstrará uma abertura ao Evangelho muito maior do que uma pessoa que vive em
ambiente secularizado. Para uma pessoa secularizada, acreditar em fadas e
duendes é o mesmo do que acreditar em Jesus Cristo! Ou, para dar uma ilustração
mais realista, é como se fossemos abordados nas ruas por um devoto de Hare
Krishna que nos convida a crer em Krishna. Para nós tal convite soará bizarro,
estranho e até engraçado. Mas para uma pessoa nas ruas de Bombai, tal convite
seria, suponho eu, causa de reflexão séria e razoável. Temo que os evangélicos
pareçam tão estranhos para as pessoas nas ruas de Bonn, Estocolmo ou Paris
quanto o são os devotos de Krishna.
O que nos espera na América do Norte, se a secularização
continuar da forma que está, já é evidente na Europa. Apesar de a maioria dos
europeus permanecer afiliada nominalmente ao Cristianismo, somente 10% são
praticantes, e menos da metade desses são evangélicos em sua teologia. A
tendência mais significativa na afiliação religiosa europeia é o crescimento
daqueles que se denominam como "não-religiosos", que foram de 0% da
população em 1900 para mais de 22% hoje. Como resultado, a evangelização é
imensuravelmente muito mais difícil na Europa do que nos Estados Unidos. Tendo
vivido na Europa por treze anos, onde eu falei e evangelizei noscampi de
várias universidades por todo o continente, eu posso testemunhar pessoalmente
quão difícil é a situação. É difícil para o evangelho sequer ser ouvido. Por
exemplo, eu lembro claramente que, quando falei na Universidade do Porto, em
Portugal, os estudantes eram tão incrédulos em relação ao perfil de um
intelectual cristão com doutorados de duas universidades europeias que eles
suspeitaram que eu fosse um impostor. Chegaram a telefonar para a Universidade
de Louvain, na Bélgica, onde eu era pesquisador visitante, para confirmar minha
filiação à Universidade!
Os Estados Unidos estão seguindo o mesmo caminho, estando o
Canadá mais a frente. A imersão do Canadá no secularismo tem sido precipitada.
Em 1900 os evangélicos representavam 25% da população canadense. Em 1989 os
evangélicos canadenses caíram para menos de 8% da população. Minha experiência
em falar em campi de universidades canadenses sugere que o Canadá incorpora um
tipo de cultura meso-atlântica mais próxima do secularismo europeu
do que o seu vizinho do sul. Pluralismo e relativismo são a sabedoria
convencional das universidades canadenses. O politicamente correto e as leis
que restringem a expressão nos debates de importância ética servem como armas
para oprimir instituições e idéias cristãs. A imersão do Canadá no secularismo
ilustra o quão importante é manter aberto ao Cristianismo o contexto cultural,
em vista da efetividade da evangelização. Felizmente, durante a última década
os evangélicos canadenses começaram a inverter essa tendência. Mas o retrocesso
vai ser muito mais difícil do que o avanço porque isso está na espinha de uma
cultura que se tornou oposta à cosmovisão cristã.
É por essa razão que os cristãos que desprezam o valor da
apologética pelo fato de "ninguém vir a Cristo através de argumentos
intelectuais" têm a visão tão limitada. O valor da apologética vai muito
mais além do que o contato evangelístico imediato. A tarefa mais ampla da
apologética cristã é ajudar a criar e sustentar um contexto cultural no qual o
Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para homens e
mulheres pensantes. No seu artigo "Christianity and Culture"
(Cristianismo e Cultura), o grande teólogo de Princeton J. Gresham Machen
afirmou corretamente:
Idéias falsas são o maior obstáculo à aceitação do
evangelho. Podemos pregar com todo o fervor de um reformador e ainda assim só
conseguir ganhar uma alma aqui e ali, se permitirmos que todo o pensamento
coletivo da nação seja controlado por idéias que impedem que o Cristianismo
seja visto como nada mais do que uma ilusão inofensiva.
Infelizmente, o alerta de Machen não foi ouvido, e o
cristianismo bíblico se restringiu intelectualmente ao isolamento cultural, do
qual só começou a sair recentemente.
Agora, grandes oportunidades estão à nossa frente. Vivemos num tempo em que a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revitalizando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à existência transcendental de um Criador e Projetista do cosmos mais do que em qualquer tempo recente, e numa época em que a crítica bíblica tem renovado a busca pelo Jesus histórico, tratando os Evangelhos seriamente como fontes históricas da vida de Jesus e confirmando as principais características do Jesus retratado nos Evangelhos. Estamos intelectualmente equilibrados para ajudar a reformular nossa cultura de tal forma a reconquistar o fundamento perdido, para que o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para pessoas pensantes.
Agora, grandes oportunidades estão à nossa frente. Vivemos num tempo em que a filosofia cristã está experimentando um renascimento genuíno, revitalizando a teologia natural, numa época em que a ciência está mais aberta à existência transcendental de um Criador e Projetista do cosmos mais do que em qualquer tempo recente, e numa época em que a crítica bíblica tem renovado a busca pelo Jesus histórico, tratando os Evangelhos seriamente como fontes históricas da vida de Jesus e confirmando as principais características do Jesus retratado nos Evangelhos. Estamos intelectualmente equilibrados para ajudar a reformular nossa cultura de tal forma a reconquistar o fundamento perdido, para que o Evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para pessoas pensantes.
Agora eu posso imaginar alguns de vocês pensando: "Mas
nós não vivemos em uma cultura pós-moderna na qual esses apelos à apologética
tradicional não são mais eficazes? Visto que os pós-modernos rejeitam os
cânones tradicionais da lógica, da racionalidade, da verdade, argumentos
racionais a favor da veracidade do Cristianismo não funcionam mais. Ao invés
disso, na cultura de hoje deveríamos simplesmente compartilhar nosso testemunho
e convidar as pessoas a participar conosco".
Na minha opinião esse tipo de pensamento não poderia ser
mais equivocado. A ideia de que vivemos numa cultura pós-moderna é um mito. Na
verdade, uma cultura pós-moderna é uma impossibilidade; seria algo
completamente impossível de se viver. Ninguém é pós-moderno quando o assunto é
a leitura de uma bula de remédio em contraste com uma caixa de veneno de rato!
É melhor você acreditar que esses textos têm um sentido objetivo! As pessoas
não são relativistas quando o assunto é ciência, engenharia e tecnologia; mas
elas são relativistas e pluralistas em questões de religião e ética. Mas,
veja, isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! É como o antigo Positivismo
e o Verificacionismo, que afirmam que qualquer coisa que você não possa provar
com os cinco sentidos é uma simples questão de gosto pessoal e expressão
emocional. Vivemos em contexto cultural que continua profundamente modernista.
De fato, eu penso que o pós-modernismo é um dos mais
articulados enganos criados por Satanás. "Modernismo está morto", ele
nos diz, "você não deve mais temê-lo. Esqueça-o; está morto e
sepultado". Enquanto isso, o modernismo, fingindo-se de morto, ressurge
travestido de pós-modernismo, mascarado como um novo desafio. "Seus velhos
argumentos e apologética não são mais eficazes contra esse novo advento",
nos é dito. "Deixe-os de lado; eles não têm nenhum uso. Apenas compartilhe
seu testemunho." De fato, alguns, cansados de longas batalhas com o
modernismo, recebem com alívio a chegada do novo visitante. E, assim, Satanás
nos engana e faz com que deixemos de lado a lógica e as evidências, que são
nossas melhores armas, e assim o modernismo triunfa sobre nós. Se adotarmos
essa atitude suicida, as consequências para a Igreja na próxima geração serão
catastróficas. O Cristianismo será reduzido a uma simples voz numa cacofonia de
vozes que competem entre si, cada uma compartilhando seu testemunho e nenhuma
afirmando para si a verdade objetiva sobre a realidade, enquanto o naturalismo
científico molda a visão da nossa cultura sobre como o mundo é.
Pois bem, obviamente não é preciso dizer que ao fazer
apologética nós temos que ser relacionais, humildes e convidativos; mas isso de
maneira alguma é um ideia genial do pós-modernismo. Desde o início, os
apologistas cristãos sabiam que deveríamos apresentar a razão da esperança que
há em nós com "mansidão e respeito" (1 Pe 3.15). Ninguém precisa
abandonar os cânones da lógica, da racionalidade e da verdade para exemplificar
essas virtudes bíblicas.
E quanto à ideia de que as pessoas na nossa cultura não
estão mais interessadas nem mais respondem positivamente à argumentação e às
evidências racionais para o Cristianismo, nada poderia estar mais distante da
verdade. Se me permitem falar sobre minhas experiências pessoais, por mais de
vinte anos tenho falado e evangelizado em campi de universidades da América do
Norte e da Europa, compartilhando o Evangelho ao defender intelectualmente as
alegações de verdade cristãs. Sempre termino minhas preleções com uma sessão de
perguntas e respostas. Durante todos esses anos ninguém jamais se levantou e
disse algo como: "Seu argumento é baseado nos padrões ocidentais e
chauvinistas de lógica e racionalidade", ou expressou outro sentimento
pós-moderno. Isso jamais acontece. Se você aborda as questões no nível
racional, as pessoas também respondem no nível racional. Se você apresenta
evidências científicas e históricas para as alegações de verdade cristãs, os
estudantes descrentes podem argumentar com você sobre fatos - que é exatamente
o que você quer -, mas eles não atacam a objetividade da ciência ou da
história. Se você apresenta uma argumento dedutivo para uma alegação de verdade
cristã, os estudantes descrentes podem levantar objeções às suas premissas ou à
conclusão - o que é, novamente, exatamente como uma discussão deve proceder -,
mas eles não discutem o seu uso da lógica.
Pois bem, também encontro estudantes que suspeitam de um
preletor cristão. Por isso eles gostam de ouvir ambos os lados quando uma
questão é apresentada. Por essa razão, os debates são algo bastante atrativo
para a evangelização universitária. Eu competi por oito anos em debates de
colégio, debatendo tópicos sobre política pública como o programa de
assistência militar, controle de salários e preços, e assim por diante. Nunca
sonhei que o debate se tornaria uma atividade ministerial. Mas logo após
terminar meu doutorado em teologia, comecei a receber convites de grupos de
estudantes cristãos do Canadá para debater tópicos como "Deus
existe?", "Jesus ressuscitou dos mortos?", "Humanismo vs.
Cristianismo", e assim por diante. E o que eu tenho visto é que, enquanto
alguns poucos ou talvez até algumas dezenas vêm me ouvir dar uma preleção num
campus, centenas e até milhares vêm a um debate em que podem ouvir ambos os
lados. Por exemplo, 2.200 estudantes da Universidade da Califórnia – Riverside
ouviram o meu debate com Greg Cavin sobre a ressurreição de Jesus. Na
Universidade de Wisconsin em Madison 4.000 estudantes viram - na noite de um
jogo de basquete! - meu debate com Antony Flew sobre a existência de Deus.
Agora há pouco em Fevereiro [2004], 3.000 estudantes da Universidade de Iowa
enfrentaram uma nevasca de quase 20 centímetros de neve para ouvir o meu debate
com um professor local de ciências da religião conhecido pela sua aversão ao
Cristianismo. Mais tarde, na primavera deste ano, 3.000 estudantes na
Universidade Purdue ouviram meu debate com o jovem filósofo humanista Austin
Dacey sobre a questão "Deus existe?". A abordagem em todos esses
debates é a abordagem da argumentação racional e das evidências. Há um tremendo
interesse entre estudantes em ouvir uma discussão equilibrada das razões a
favor e contra a crença cristã.
Então, não se engane pensando que as pessoas na nossa
cultura não estão mais interessadas nas evidências a favor do Cristianismo. O
oposto é o verdadeiro. É de uma importância vital preservarmos uma cultura na
qual o Evangelho é ouvido como uma opção viva para pessoas pensantes, e a
apologética será a dianteira e o centro ajudando a trazer esse resultado.
2. Fortalecimento dos crentes. Não só a
apologética é vital para a transformação da cultura, mas também exerce um papel
vital na vida individual das pessoas. Um desses papéis é fortalecer os crentes.
Jan e eu passamos o verão de 1982 vivendo num apartamento em
Berlin, enquanto eu me preparava para o meu exame oral em teologia na
Universidade de Munique. Eu vinha me preparando por mais de um ano para esses
exames críticos, e eu tinha uma pilha de notas de quase trinta centímetros de
altura que eu tinha memorizado praticamente toda e revisado diariamente antes
do exame. Durante nosso tempo lá, tivemos o prazer de receber Ann Kiemel e seu
marido Will enquanto eles passaram por Berlin. Ann era a preletora cristã mais
popular da América. Ela era única, ela falava para pessoas totalmente
desconhecias a ela e as encorajava cantando algumas canções improvisadas e
compartilhando sua fé. Ela era extremamente sentimental e emocional. Ela
contava histórias - algumas fictícias, algumas verdadeiras - que faziam toda a
plateia feminina derramar lágrimas em minutos.
Bem, enquanto estávamos conversando um dia, pensei que poderia aprender algumas
lições a partir da experiência dela. "Ann", eu perguntei, "como
você se prepara para suas mensagens?"
"Ah, eu não me preparo", ela disse.
Eu fiquei totalmente chocado. "Você não se prepara?", eu disse.
"Não", ela respondeu.
Eu fiquei totalmente desconcertado. "Bem, então, o que você faz?", perguntei.
"Ah, eu só compartilho minhas lutas."
"Ah, eu não me preparo", ela disse.
Eu fiquei totalmente chocado. "Você não se prepara?", eu disse.
"Não", ela respondeu.
Eu fiquei totalmente desconcertado. "Bem, então, o que você faz?", perguntei.
"Ah, eu só compartilho minhas lutas."
Eu não podia acreditar. Eu estava me matando em anos de
preparação para o ministério - e ela não se preparava! E não havia a menor
dúvida quanto à sua eficácia. Ela alcançada milhares de pessoas com o
Evangelho. Ela contava histórias de como acadêmicos cabeça-dura se desmanchavam
pelas suas canções e histórias e vinham a Cristo. Eu pensei: "Por que
estou fazendo tudo isso enquanto tudo que você precisa fazer é compartilhar
suas lutas?"
Nós retornamos para os Estados Unidos naquele outono para
passar período sabático na Universidade de Arizona em Tucson, onde um ex-colega
de classe vivia. Eu compartilhei com ele a minha conversa com Ann e disse como
isso havia me transtornado. Ele disse algo para mim que foi bastante
confirmador. Ele me disse: "Bill, um dia essas pessoas que a Ann Kiemel
trouxe ao Senhor vão precisar do que você tem para oferecer".
Ele estava certo. Emoções o levam apenas a um certo ponto, e
aí você precisará de algo mais substancial. A apologética provê essa sustância.
Ao falar em igrejas ao redor do país, eu frequentemente encontro pais que se
aproximam de mim após o culto e dizem algo como: "Se você estivesse aqui
há dois ou três anos! Nosso filho (ou filha) tinha perguntas sobre a fé que
ninguém conseguia responder, e agora ele perdeu a fé e se afastou do
Senhor".
Parte meu coração encontrar pais assim. Ao viajar, também
tenho encontrado outras pessoas que me disseram como elas deixaram de apostatar
por ter lido um livro apologético ou visto o vídeo de um debate. No caso delas,
a apologética foi um meio pelo qual Deus as fez perseverar na fé. Ora, é claro
que a apologética não pode garantir a perseverança, mas pode ajudar e, em
alguns casos, pela providência de Deus, ser até necessária. Recentemente eu
tive o privilégio de falar na Universidade de Princeton sobre argumentos para a
existência de Deus, e após minha preleção eu fui abordado por um jovem que
queria falar comigo. Claramente segurando as lágrimas, ele me disse que poucos
anos atrás ele vinha lutando com dúvidas e estava prestes a abandonar sua fé.
Alguém lhe deu um vídeo de um dos meus debates. Ele disse "Isso me salvou
de perder a fé. Não há como te agradecer o suficiente."
Eu disse, "Foi o Senhor quem o salvou de cair."
'Sim", ele respondeu, "mas Ele o usou. Não há como
agradecer-lhe o suficiente". Eu lhe disse o quão emocionado eu estava por
ele e lhe perguntei sobre seus planos futuros. "Eu estou me formando este
ano", ele me disse, "e eu planejo ir para o seminário. Eu vou ser
pastor". Glória a Deus pela vitória na vida desse rapaz!
Outros estudantes que eu encontrei em Princeton estavam
matriculados num curso dado pela crítica de Novo Testamento Elaine Pagels. Eles
apelidaram as aulas de "curso caçador de fé", devido ao efeito
destrutivo à fé de muitos estudantes cristãos. Eles não tinham noção de como a
visão da Prof. Pagels sobre os evangelhos gnósticos estava fora da corrente
principal de estudos acadêmicos. Foi um privilégio compartilhar com eles as
bases para a credibilidade do testemunho neotestamentário sobre Jesus.
A experiência deles não é incomum. No colégio e na
faculdade, os jovens cristãos são intelectualmente agredidos com todo tipo de
cosmovisão não-cristã aliada a um relativismo esmagador. Se os pais não estão
intelectualmente engajados com sua fé e não têm bons argumentos a favor do
teísmo cristão e boas respostas para as perguntas de seus filhos, então estamos
num verdadeiro perigo de perder nossa juventude. Não basta ensinar nossas
crianças histórias simples da bíblia; eles precisam de doutrina e apologética.
É difícil entender como as pessoas hoje podem arriscar ser pais sem ter
estudado apologética.
Infelizmente, nossas igrejas jogaram a toalha nessa área.
Não é suficiente focar em entretenimento e pensamentos devocionais bobos nos
grupos de jovens e escolas bíblicas. Temos que treinar nossos filhos para a
guerra. Não podemos enviá-los para o ensino médio e para a universidade armados
de espadas de borracha e armaduras de plástico. O tempo de brincar já passou.
Mas a apologética cristã faz muito mais do que salvaguardar
de lapsos. Os efeitos positivos e edificantes do treinamento apologético são
ainda mais evidentes. Eu vejo isso toda hora nos campi de universidades onde eu
debato. John Stackhouse uma vez comentou para mim que esses debates são uma
versão ocidentalizada do que os missionários chamam de "encontro de
poderes". Eu acredito que isso seja uma análise perspicaz. Os
estudantes cristãos saem desses encontros com uma confiança renovada em sua fé,
de cabeça erguida, orgulhosos de serem cristãos, e confiantes ao falar de
Cristo no campus. Algumas vezes após um debate os estudantes dizem: "Eu
não posso esperar para compartilhar minha fé em Cristo!"
Muitos cristãos não compartilham sua fé com os descrentes
simplesmente por causa do medo. Eles têm medo de que os não-cristãos lhe façam
uma pergunta ou levantem uma objeção que não saibam responder. E então eles
escolhem ficar em silêncio e, assim, escondem sua luz sob o alqueire,
desobedecendo ao mandamento de Cristo. O treinamento apologético é um grande
impulso ao evangelismo, pois nada inspira mais confiança e coragem do que saber
que se têm boas razões para acreditar no que se acredita e boas respostas para
as perguntas e objeções comuns que podem ser levantadas. Bom treinamento em
apologética é uma das chaves para um evangelismo destemido.
Dessa e de muitas outras maneiras a apologética ajuda a
edificar o corpo de Cristo fortalecendo individualmente os crentes.
3. Evangelizar os descrentes. Poucas
pessoas discordariam de mim quando digo que a apologética fortalece a fé dos
cristãos. Mas muitos diriam que a apologética não é muito útil na
evangelização. "Ninguém vem a Cristo através de argumentos", lhe
dirão. (Eu não sei quantas vezes já ouvi isso.)
Essa atitude negativa em relação ao papel da apologética na
evangelização certamente não é a visão bíblica. Ao lermos os Atos dos
Apóstolos, é evidente que era a atitude padrão dos apóstolos argumentar a favor
da veracidade da visão cristã, tanto com judeus quanto com pagãos. (ex.,
At 17:2 3, 17; 19:8; 28:23 24). Ao lidar com a audiência judaica, os
apóstolos recorriam ao cumprimento de profecias, os milagres de Jesus, e
especialmente a ressurreição, como evidência de que ele era o Messias (At
2:22 32). Quando eles confrontaram as audiências gentias que não aceitavam
o Antigo Testamento, os apóstolos apelavam para a obra de Deus na natureza como
evidência da existência do Criador (At 14.17). Depois apelavam para as
testemunhas oculares da ressurreição de Jesus para mostrar especificamente que
Deus se revelou em Jesus Cristo (At 17.30,31; 1 Cor. 15.3 8).
Francamente, eu acredito que aqueles que veem a apologética
como fútil na evangelização simplesmente não evangelizam muito. Eu suspeito que
eles tenham tentado usar argumentos apologéticos em alguma ocasião e o
descrente continuou incrédulo. E, por isso, tiraram a conclusão de que a
apologética não é eficaz na evangelização.
Por um lado, essas pessoas são vítimas de uma falsa
expectativa. Quando você observa que somente uma minoria das pessoas que ouvem
o Evangelho o aceita e que só uma minoria desses que aceitam o faz por razões
intelectuais, não deveríamos nos surpreender que o número de pessoas com as
quais a apologética é eficaz é relativamente baixo. Mas, pela própria natureza
da questão, devemos esperar que a maioria dos descrentes permaneça não
convencida por nossos argumentos apologéticos, assim como a maioria permanece
imóvel à pregação da cruz.
Bem, então, por que se preocupar com a minoria da minoria
com a qual a apologética é eficaz? Primeiro, por que toda pessoa é preciosa
para Deus, uma pessoa pela qual Cristo morreu. Como missionário chamado para
alcançar um grupo obscuro, o apologista cristão é chamado para alcançar a
minoria das pessoas que responderão à argumentação e evidência racional.
Mas, segundo - e aqui o caso difere significantemente do
caso do grupo de pessoas obscuras -, esse grupo de pessoas, apesar de
relativamente pequeno em números, é grande em influência. Uma dessas pessoas,
por exemplo, foi C. S. Lewis. Pense no impacto que a conversão de um homem
continua a ter! Eu acho que as pessoas que mais se entusiasmam com meu trabalho
apologético tendem a ser engenheiros, pessoas da área de medicina, e advogados.
Tais pessoas estão entre os mais influentes formadores de opinião hoje. Então,
alcançar essa minoria de pessoas gerará uma grande colheita para o Reino de
Deus.
De qualquer forma a conclusão geral de que a apologética é
ineficaz na evangelização é precipitada. Lee Strobel recentemente me disse que perdeu
a conta do número de pessoas que vieram a Cristo através de seus livros Em
Defesa de Cristo e Em
Defesa da Fé. Em minha experiência pessoal, tenho experimentado a
eficácia da apologética na evangelização. Ficamos continuamente assombrados ao
ver pessoas dedicando suas vidas a Cristo através de apresentações apologéticas
do Evangelho. Após uma conversa sobre os argumentos a favor da existência de
Deus ou sobre as evidências para a ressurreição de Jesus ou uma defesa do
particularismo cristão, eu frequentemente concluo com uma oração de aceitação a
Cristo, e os cartões de comentário indicam aqueles que registraram tal
compromisso. Essa última primavera eu fiz uma turnê pelas universidades da
região central de Illinois, e nós ficamos muito animados ao ver que após
praticamente toda apresentação, os estudantes fizeram decisões por Cristo. Eu
cheguei a ver estudantes virem a Cristo através de uma defesa do argumento
cosmológicokalam!
Uma das histórias mais emocionantes foi o caso de Eva
Dresher, uma física polonesa que eu encontrei na Alemanha logo após completar
meu doutorado em filosofia. Enquanto eu e Jan conversávamos com Eva, ela
mencionou que a física havia destruído sua crença em Deus e que a vida tinha se
tornado sem sentido para ela. "Quanto eu olho para o universo, tudo que
vejo é escuridão", ela explicou, "e quando eu olho para mim mesmo
tudo que eu vejo é sombrio". (Que dolorosa declaração do dilema moderno!)
Bem, nesse momento Jan se voluntariou, dizendo: "Ah, você deveria ler a
dissertação do doutorado do Bill! Ele usa a física para provar que Deus
existe." Então, emprestamos para ela ler minha dissertação sobre o
argumento cosmológico. Ao longo dos dias, ela ficava mais e mais animada.
Quando ela chegou na seção sobre astronomia e astrofísica, ela estava jubilosa.
"Eu conheço esses cientistas que você está citando!", ela exclamou
maravilhada. Quando ela chegou ao final, sua fé havia sido restaurada.
"Obrigado por me ajudar a crer que Deus existe", ela disse.
Nós respondemos: "Você gostaria de conhecê-lO de uma
maneira pessoal?". Então marcamos um horário para encontrá-la naquela
noite num restaurante. Enquanto isso preparamos de memória as Quatro Leis
Espirituais. Depois do jantar nós abrimos o livreto e começamos: "Assim
como existem leis físicas que governam o universo físico, assim também existem
leis espirituais que governam nosso relacionamento com Deus..."
"Ah, leis físicas! leis espirituais!", ela
exclamou. "Isso é exatamente para mim!". Quando chegamos aos círculos
no final que representam duas vidas e lhe perguntamos qual círculo representava
sua vida, ela colocou sua mão sobre os círculos e disse: "Ah, isso é tão
pessoal! Eu não posso responder agora". Então, nós lhe encorajamos a levar
o livreto para casa e entregar sua vida a Cristo.
Quando nós a vimos no dia seguinte, seu rosto estava
radiante de alegria. Ela nos disse que havia ido para casa e na privacidade do
seu quarto orou para receber a Cristo. Então, ela jogou no vaso todo o vinho e
os tranquilizantes que vinha usando. Ela era uma pessoa verdadeiramente
transformada. Nós lhe demos uma Bíblia Good News [Boas Novas]
e lhe explicamos a importância de manter uma vida devocional com Deus. Nossos
caminhos se distanciaram por muitos meses. Mas quando nós a vimos novamente ela
ainda estava entusiasmada com sua fé, e nos disse que suas posses mais
preciosas eram a Bíblia Good News e seu livreto das Quatro
Leis Espirituais. Isso foi uma das mais vívidas ilustrações que eu vi de como o
Espírito Santo pode usar argumentos e evidências para levar as pessoas a um
conhecimento salvífico de Deus.
Tem sido emocionante, também, ouvir histórias de como as
pessoas têm vindo a Cristo através da leitura de algo que eu escrevi. Por
exemplo, quando eu estava falando em Moscou, alguns anos atrás, encontrei um
homem de Minsk, Bielorrússia. Ele me disse que logo após a queda do comunismo
ele havia ouvido alguém lendo em russo meu livro The Existence of God
and the Beginning of the Universe [A Existência de Deus e o Ínicio do
Universo] pelo rádio em Minsk. No final da transmissão, ele havia sido
convencido de que Deus existia e entregou sua vida a Cristo. Ele me disse que
hoje ele serve ao Senhor numa Igreja Batista em Minsk. Glória a Deus! Mais cedo
nesse ano na Universidade do Texas, encontrei uma mulher que estava
participando de minhas preleções. Ela me disse chorando que, por 27 anos, havia
estado longe de Deus e se sentido desesperançada e sem sentido. Pesquisando
numa livraria ela achou meu livro Will the Real Jesus Please Stand
Up? [O verdadeiro Jesus, por favor, levante-se], que contém meu debate
com John Dominic Crossan, copresidente do radical Seminário Jesus [Jesus
Seminar], e comprou uma cópia. Ela disse que, enquanto lia, ia se abrindo a
Cristo, até que finalmente entregou sua vida a Ele. Quando eu perguntei o que
ela fazia, ela disse que era psicóloga e trabalhava numa prisão feminina do
Texas. Pense na influência cristã que ela pode ter num ambiente tão desvairado!
Se me permitirem, gostaria de contar uma última história.
Nos últimos anos eu tive o privilégio de me envolver em debates com apologistas
muçulmanos em vários campi no Canadá e Estados Unidos. Este verão, numa manhã
de sábado, eu recebi uma ligação. A voz do outro lado da linha anunciou:
"Olá! Aqui é Sayd al-Islam ligando de Omã!". Eu pensei: "Ah,
não! Eles me encontraram!". Ele continuou e explicou que ele havia perdido
sua fé muçulmana secretamente e havia se tornado ateu. Mas agora lendo vários
livros apologéticos cristãos, que ele havia comprado na Amazon.com,
passou a crer em Deus e estava prestes a se comprometer com Cristo. Ele estava
impressionado com as evidências para a ressurreição de Jesus e havia me ligado
porque ainda tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas. Nós
conversamos por uma hora, e eu senti que no seu coração ele já cria em Cristo;
mas ele queria ser cauteloso e ter certeza que tinha as evidências certas antes
de dar o passo conscientemente. Ele me explicou: "Você entende que eu não
posso lhe dizer meu verdadeiro nome. No meu país eu tenho que levar um tipo de
vida dupla por que senão eu sou morto". Eu orei com ele para que Deus
continuasse a guiá-lo em direção à verdade, e então nos despedimos. Você pode
imaginar quão grato a Deus meu coração ficou por Ele ter usado esses livros - e
a internet! - na vida desse homem! Histórias como essa são inúmeras e, é claro,
nunca ouvimos todas elas.
Então aqueles que dizem que a apologética não é eficaz com
os descrentes falam a partir de sua experiência limitada. Quando a apologética
é persuasivamente apresentada e combinada sensivelmente com uma apresentação do
Evangelho e um testemunho pessoal, o Espírito de Deus usa isso para trazer
certas pessoas para Si. A apologética é necessária nesses casos? Essas pessoas
teriam vindo a Cristo de qualquer forma, mesmo se não tivessem ouvido os
argumentos? Acredito que temos que dizer: "Só Deus sabe!". No mínimo,
Ele sabe se Ele tem conhecimento-médio, certo? Podemos não saber o valor de
verdade de tais contrafatuais da liberdade; mas nós podemos saber e sabemos por
experiência que Deus usa a apologética na evangelização para trazer os perdidos
a Ele.
Concluindo, a apologética cristã é uma parte vital do
currículo teológico. Apesar de não ser necessária para garantir a crença
cristã, ela é, acredito, suficiente para garantir e justificar a crença cristã
e, portanto, de grande benefício. A apologética executa um papel vital, e
talvez crucial, na transformação da cultura, no fortalecimento dos crentes, e
na evangelização dos descrentes. Por todas essas razões, fico
não-apologeticamente entusiasmado com a apologética cristã.
Notas:
1 Eu acho que epistemólogos reformados como Alvin Plantinga
conseguiram oferecer um modelo epistemológico que mostra, se o teísmo cristão
for verdadeiro, que a crença cristã pode ser garantida e justificada na
ausência de argumentos apologéticos. Eu devo apenas ajustar esse modelo para os
propósitos da teologia cristã eliminando o chamado sensus divinitatis,
que não encontra nenhuma base nas Escrituras, em favor do testimonium
Spiritu Sancti internum, ou o testemunho interno do Espírito Santo,
que é atestado nas Escrituras. Além do mais, ao invés de tomar o testemunho do
Espírito como um processo formador de crença análogo a uma faculdade cognitiva
(um constructo que torna difícil assegurar que é literalmente verdade que
"eu creio em Deus", visto que a faculdade ou processo não
é meu), eu devo entender o testemunho do Espírito como um forma de testemunho
produzido pelo Espírito de Deus em mim ou como parte das circunstâncias que
fundamentam a crença que eu formo acerca de Deus e das grandes verdades do
Evangelho.
2. Alguns epistemólogos reformados, apesar de endossarem os
argumentos da teologia natural, expressam ceticismo em relação às perspectivas
da apologética histórica porque, quando é adicionada mais especificidade a uma
hipótese, a probabilidade dessa hipótese diminui rapidamente. Tal objeção é,
entretanto, duplamente equivocada. Primeiro, as probabilidades não precisam diminuir
e podem, na verdade, aumentar ao se acrescentarem progressivamente evidências
especificas para a informação prévia de alguém pelo refinamento das hipóteses.
O erro da objeção é que esta afirma que a base evidencialista é constante
enquanto adiciona hipóteses adicionais, ao invés de aumentar as evidências ao
falarmos de crenças cristãs especifícas. Segundo, de qualquer forma os
historiadores não avaliam hipóteses históricas através de cálculos
probabilísticos. Antes, eles usam como critério de avaliação a extensão
explanatória, o poder explanatório, o grau de ad hoc, e assim por
diante. Esse é o meio pelo qual eu argumento a favor da hipótese da
Ressurreição.
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